Opinião:# fora Turco é exemplo de problema sistêmico no futebol brasileiro
Antonio Mohamed chegou no Atlético com a dura missão de substituir o técnico Cuca, multicampeão com o clube e muito querido pelo elenco. Apesar da grande pressão, o Turco vem se saindo bem e além de muito querido pelos jogadores, já conquistou dois troféus em 2022.
Apesar disso, por meio das redes sociais, diversos torcedores atleticanos fizeram críticas ao treinador após os tropeços recentes. Alguns torcedores mais radicais, pedem que El Turco seja demitido para que o clube tenha chance de ganhar algum título na atual temporada.
Embora a equipe venha apresentando problemas, Mohamed não é nem de perto o único culpado. É verdade que sob seu comando, o desempenho defensivo da equipe piorou e que nos últimos jogos, a equipe não teve o mesmo volume ofensivo.
São 4 jogos sem vitórias no Campeonato Brasileiro e os problemas parecem seguir aparecendo, apesar disso, é preciso dar um passo para trás e olhar o cenário que El Turco se encontra. Muito se fala sobre ele ter recebido uma equipe campeã e piorado ela, isso não é verdade.
O Atlético perdeu 6 atletas que fizeram parte do grupo campeão em 2021. Um levantamento do Portal do Atleticano mostra que esses jogadores, foram responsáveis diretos, por 30 dos 84 pontos conquistados no Brasileiro de 2021.
Para as partidas contra Bragantino e América, Mohamed tinha no banco de reservas pouquissímas opções ofensivas, tendo que recorrer a garotos da base e a Keno, que voltou a ser relacionado após um longo período de inatividade.
É natural que o desempenho caia, a temporada começou em janeiro, desde então, os atletas praticamente não tiveram folga. É preciso lembrar que o calendário brasileiro é um dos piores do mundo, com partidas a cada três dias.
O treinador não só não tem tempo para corrigir os problemas do time, como os jogadores não tem tempo de se recuperar. A maratona de jogos é cruel e nas últimas partidas o Galo teve os desfalques de Vargas e Mariano, além de Dodô, que se recupera de cirurgia no joelho.
Dito isso, é preciso ressaltar que a forma como o Atlético se defende precisa ser ajustada: a equipe parece ainda não ter entendido como o Turco gosta que seus times se comportem sem a bola. Vemos uma pressão alta mal feita, algo que era marca registrada do Galo de Cuca e que quando mal executada, deixa a equipe vulnerável demais.
É por isso, que o meio campo alvinegro vem sendo alvo de muitas críticas, quando Hulk e Ademir sobem para pressionar a saída de bola da equipe adversária, o resto do time não acompanha. Fazendo com que o rival quebre a primeira linha de marcação com facilidade, forçando os meias do Galo a avançarem e deixando o campo defensivo esvaziado.
O grande número de gols pelo alto também tem chamado a atenção, algo que parece ter sido corrigido nas últimas partidas. A torcida também vem se incomodando com o grande número de chances perdidas, algo já destacado por Mohamed e pelos atletas, que precisam recuperar a confiança para trazer o Atlético de volta ao caminho das vitórias.
Assim como Palmeiras e Flamengo, o Atlético tem seus problemas, mas ao olharmos a temporada como um todo, o desempenho é satisfatório. São 26 jogos, 17 vitórias, 7 empates, apenas 2 derrotas e 2 títulos conquistados. Além disso, o clube também lidera seu grupo na Copa Libertadores e depende apenas de si para se classificar no torneio.
Demitir Antonio Mohamed agora, no meio da temporada, seria um grande erro por parte da diretoria do Atlético. Primeiro porque o mercado de treinadores é escasso, demoraria tempo até se achar um substituto. Além disso, o novo treinador precisaria de tempo para implementar suas ideias, algo que ele também não teria, visto que o já apertado calendário brasileiro foi ainda mais espremido por conta da Copa do Mundo.
A grande pressão que El Turco vem sofrendo no Atlético é um exemplo clássico do resultadismo brasileiro, um problema sistêmico do nosso futebol. Para muitos, Abel Ferreira é hoje um dos melhores treinadores em atividade no país. Atual bicampeão da Libertadores, o português de fato faz um trabalho exemplar no Palmeiras.
Apesar disso, no começo de 2021, ele se viu extremamente pressionado por torcida e imprensa por uma série de derrotas em jogos decisivos (semifinal do mundial, final da Recopa e final da Supercopa). Os mais radicais, consideravam o estilo de jogo do treinador antiquado e clamavam que o Verdão precisava de um treinador mais ofensivo para ser protagonista.
Felizmente, a direção alviverde resistiu aos apelos e manteve o treinador no cargo. No fim do ano, o Palmeiras se tornou a primeira equipe brasileira desde o São Paulo de Televisão Santana, a ser bicampeã da América.
O torcedor brasileiro precisa entender que oscilações ao longo da temporada vão acontecer, é natural, faz parte do futebol. É por isso que esse esporte é tão emocionante, nem sempre o melhor vence. Ainda mais em um futebol tão disputado quanto o nosso! No final do ano poucos times se sagram campeões, é impossível que todos vençam.
É preciso entender o futebol além dos troféus, que não me entenda mal, são importantes, mas não são tudo. É possível uma equipe fazer uma boa temporada e mesmo assim terminar sem nenhum título relevante. Veja o Liverpool de Klopp, já venceu a Copa da Liga, está na final da FA Cup e da Champions, além de estar na briga com o Manchester City pela Premier League.
É possível que os Reds terminem a temporada com apenas um troféu, mas isso não significa que a temporada deles foi ruim, pelo contrário! Nos mostra como em um futebol tão exigente, a equipe conseguiu brigar por tudo e ao se colocar no limite, possa acabar pagando um preço um tanto quanto amargo por se colocar no limite.
Além disso, penso também que como torcedores, precisamos entender nossos times além de vitórias e derrotas. Pegue como exemplos os nossos rivais argentinos, os clubes são parte do bairro, parte da comunidade, cada partida é uma celebração daquele amor, daquele sentimento, daquela paixão, independentemente de qualquer resultado ou momento.
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